terça-feira, 24 de novembro de 2009

ATREVAMO-NOS JÁ QUE SOMOS HUMANOS

Por: Sri T. M. Janárdana
(Traduzido do The Suddha Dharma, maio 1937)



Aqueles que desejam seguir os princípios e práticas do Suddha Dharma, que é o único meio que pode conduzi-los ao Yoga em seu sentido integral, se lhes exige que consultem o seu próprio coração uma e outra vez antes que se decidam a isso. Esta exortação é terminante, não se pode deixar o problema meio resolvido, nem convém ao interessado fazer-se desentendido.
Caberia, em tal caso, perguntar-se se o desejo em si mesmo constituiria uma garantia suficiente para que alguém possa trilhar a senda. Também seria o caso de perguntar se os princípios serão realmente tão rigorosos em suas exigências que pudessem impedir alguns de segui-los e, todavia, uma terceira pergunta, poder-se-ia averiguar em que consiste isso de consultar seu próprio coração etc. Procuraremos responder a essas perguntas em sua devida ordem.
Em comparação com os que desejam adquirir o hábito anelado da anulação de todo desejo, o que tende a gerar uma atitude hipócrita, aqueles outros seres que desejam, e não tratam de dissimulá-lo, são homens honrados. O desejo é precisamente o que os impulsiona a buscar o caminho do Suddha Dharma, o qual, por causa de sua imensa amplitude, atrai a todos os seres sob o sol em perfeito acordo com o que cada qual busca.
Ao invés das diversas religiões e escolas filosóficas espiritualistas existentes, o Suddha Dharma Mandalam não pede ao homem que considere o mundo como falso, que desnaturalizem os sentidos, que aniquilem a mente nem que executem tudo isso com o fim de afastar totalmente o aspecto mundano da vida e atingir o êxito no sentido puramente espiritual. Por outro lado, o Suddha Dharma deseja que os homens vivam a vida material de modo que cheguem a compreendê-la ampla e totalmente, porque assim como a noite segue o dia, assim se haverá de chegar às revelações espirituais para atingir finalmente o Yoga. Por isso que os ensinamentos do Suddha Dharma consideram que os aspectos materiais e mundanos da vida são muito importantes para se atingir um desenvolvimento completo. A Suddha Dharma não prefere o espiritual em prejuízo do material, ou vice-versa; pois se assim fosse feito, resultaria em desequilíbrio e com ele a destruição.
Tão fascinante verdade é o verdadeiro Sanátana Dharma; para muitos será um grande alívio só o fato de ouvi-la, pois há muito tempo se lhes vinha ensinando a ver o mundo como falso e ilusório e que abandonassem a família para seguir em busca de Deus, posto que a vida material (ou mundana) e espiritual haviam chegado a ser incompatíveis entre si. E isso em nome da religião!
Aquilo que se denomina religião hindu pecou muito nesse sentido. Há muito pouco de Sanátana no que essa religião pode sustentar; ela captou somente uma parte da verdade, mas a confunde com o Sanátana. Por conseguinte, quando se revela a verdade real do Sanátana Dharma, ela abre os olhos e todos aqueles buscadores da verdade que, de tanto tempo atrás, vinham mantendo aquelas idéias equivocadas, e esta revelação lhes dá um novo entusiasmo para viver e seguir os princípios do Suddha (Sanátana) Dharma, a fim de obter a realização.
Entretanto, tal desejo, ainda que altamente meritório em si mesmo, não basta só para garantir a adoção prática dos princípios do Suddha Dharma, porque a prática implica um conhecimento direto dos princípios, sem o qual não há prática que mereça tal nome, mesmo quando alguém realmente a desejar e procurar examiná-la. Se essas práticas são examinadas empiricamente, terminam por se desviar para um caminho totalmente alheio à verdade.
Não basta, pois, o mero desejo de vivenciar as verdades do Suddha Dharma para ser auxiliado, é necessário segui-las e somente se poderá segui-las quando se tenha estudado e assimilado muito bem os princípios antes de praticá-las.
Ante semelhante conclusão, é natural que a curiosidade de qualquer, ainda que do cético, é desejar saber em que consistem os princípios fundamentais do Suddha Dharma, cujas excelsas bondades tanto se afirmam, e assegurar-se se realmente são tão difíceis de seguir esses princípios.
Não só é difícil adotar como próprios os princípios do Suddha Dharma, mas que além disso, isso é realmente azaroso, porque a grande dificuldade que existe para conseguir que a mente siga esses princípios se deve a que são de natureza extremamente simples.
O primeiro princípio é AHIMSA – não causar dano.
Num mundo em que a violência é praticada com todos os refinamentos de uma arte consumada, a idéia de “não causar dano” tem forçosamente que soar em nossos ouvidos como algo vazio e não substancial.
A violência é o resultado direto da perniciosa teoria da sobrevivência do mais forte. Além disso, o desejo de se sobrepor ao próximo fez da violência um princípio determinante, e já sabemos com que efeito!
Ante uma situação geral tão premente, poder-se-ia perguntar como pode ser possível não causar dano. Pois bem, o propósito do Suddha Dharma é precisamente ensinar-nos como isso é possível.
O segundo grande princípio do Suddha Dharma é a VERACIDADE.
A falsidade é aliada de MOHA, essa fascinação apaixonada que tende a confundir uma coisa com outra, precursora de nossa queda. MOHA constitui o maior tropeço do ser humano e persiste quando se cultiva a falsidade. Esta pode ser derrotada não simplesmente pela verdade, mas falando verazmente, o que é diferente da simples verdade.
O SERVIÇO AOS DEMAIS DENTRO DE NOSSAS POSSIBILIDADES, é o terceiro grande princípio do Suddha Dharma. Ele não exige que alguém saia de seu caminho normal para ajudar os outros com risco de nossa segurança pessoal.
Os três princípios, anteriormente expostos, devemos segui-los em nossas relações com os demais seres. Em troca, o quarto grande princípio do Suddha Dharma se refere a si mesmo, a MEDITAÇÃO.
Tão-só por meio da meditação e a reflexão, consegue o homem superar-se e elevar-se no processo evolutivo do mundo. Não há nenhum outro meio para isso. Todos os Grandes Seres do Suddha Dharma Mandalam ocupam seus elevados cargos, dentro da HIERARQUIA, devido unicamente ao simplíssimo processo de meditação. Idêntico se pode dizer das Grandes Trimúrtis.
De maneira que esses quatro princípios, simples por demais, constituem a base vital e fundamental do Suddha (Sanátana) Dharma. E precisamente porque esses princípios são tão simples, é que a mente, que se transbordou em complexidades, em idéias grotescas e malabarismos intelectuais, encontra dificuldade em colocá-los em prática. Não há Yogue, digno de tal nome, se não põe em prática estes princípios na vida diária. Os grandes tesouros espirituais e materiais do Suddha Dharma só se encontram ao alcance daquelas pessoas que adotaram estes princípios em sua vida diária como um valor efetivo de progresso.
E agora, aqueles que desejam seguir praticamente o Suddha Dharma deverão determinar se serão capazes ou não de segui-La. Não há nenhuma vantagem enganar-se a si próprio a respeito destes fatores fundamentais da existência e da conduta humana, que são os únicos capazes de incrementar o Sadhana. Não há outra maneira de proceder nisto.
Vejamos, agora, em que consiste o consultar o nosso próprio coração. Esta consulta ao coração tem o caráter de análise íntima. Todas as ações feitas têm de ser provadas na bigorna dos quatro princípios básicos já mencionados, os quais facilitam a auto-análise. O coração é o assento dos afetos; ele cria nós que têm caráter de ataduras para o homem. Esses nós têm de ser desatados porque eles impedem o homem de realizar-se. Temos de desatar os nós se quisermos chegar a contemplar o Morador Interno na gruta do coração, o ISHWARA, o único capaz de conduzir o homem da ignorância ao conhecimento, do falso para a verdade, da morte para a imortalidade. Isto se pode e se deve fazer em forma gradual, unicamente auxiliado pela inteligência plena de discernimento e critério, cujas qualidades são geradas corretamente pela prática do Suddha Dharma.
Todas as tentativas que se fazem para romper os nós de uma maneira violenta, tal como ocorrem com certas práticas falsamente chamadas de Yoga, normalmente acompanhadas de idéias errôneas acerca da vida e da matéria, terminam em um desastre doloroso.
A prova freqüente a que alguém deve submeter seu coração é a de experimentar a capacidade de liberar-se das ataduras do próprio coração, e, para isso, deve levar-se uma existência de dedicação e atividade impessoal. Por este processo, se consegue finalmente com que as cadeias se rompam, e o resultado é Yoga.
As ataduras do coração, que é o assento dos afetos, se devem ao equivocado destino que se dá a estes afetos, por causa de nossos apegos. O verdadeiro afeto é inteligência pura; mas quando se produz a agitação emocional, as ondas de apegos e aversões se levantam; elas açoitam e perturbam a inteligência e geram as tendências separatistas do bem e do mal, como igualmente aqueles outros fatores de natureza relativa que perturbam o equilíbrio do ser humano. Estes fatores duais se denominam também a maneira pessoal de viver, ou também o “eu” e “meu”, o qual acentua a multiplicidade e conduz ao antagonismo.
O remédio soberano para conquistar estes afetos consiste unicamente no que se denomina a maneira impessoal de viver, o qual deseja dizer que não se deve reagir ante o bem e o mal como tais, senão medi-los melhor quanto às suas qualidades. Estas qualidades são as bem conhecidas TRIGUNAS, ou seja, SATWA (inteligência), RAJAS (paixão) e TAMAS (ignorância).
Toda dualidade da vida manifestada é o resultado do maior ou menor grau e proporção em que estas três qualidades, ou GUNAS, se mesclaram. Por este motivo, se julgamos a dualidade, atendo-nos somente a estas três qualidades, a inteligência começará a impor-se; isto nos levará a uma maneira impessoal de viver, a qual, por sua vez, irá aflorando os nós do coração, levando-nos à realização espiritual. Este é o verdadeiro Yoga que finaliza na maestria nas obras. Isto é justamente o que significa examinar o coração uma e outra vez.
É por isto que as pessoas, que desejarem seguir os ensinamentos da Suddha Dharma, deverão examinar o fundo, uma e outra vez, de seu próprio coração, até se certificar de que verdadeiramente terão a coragem de trilhar a senda, a única que poderá harmonizar a vida externa com a vida interior, o manifestado com o imanifestado, o mundano com o espiritual.
Todos aqueles assuntos, que se denominam problemas relacionados com questões econômicas, políticas, sociais, religiosas etc., constituem tais problemas, porque se lhes aplica indevidamente aos problemas da existência. E é por isso que quando se estuda a vida verdadeira, e isso a Suddha Dharma nos ensina de maneira magistral, cada qual encontra a solução desses problemas desde o aspecto de sua própria relação individual com eles. E é evidente que, se o problema individual encontra sua solução por todas as partes, de fato se obteve também a solução coletiva.
Bhagavan Sri Naráyána, por isso, disse que os diversos níveis sociais, desde o mais elevado até o mais baixo, devem ser medidos em termos de GNANA e não à base de linhagem familiar, nem de riquezas, que só correspondem ao meramente material. GNANA assinala o grau de desenvolvimento interno (ÁTMICO), enquanto que o exterior corresponde ao material (PRAKRÍTICO).
Uma sociedade, cujos componentes estão dotados de desenvolvimento interno, sofre menos conflito e há menos de todos esses horrorosos fatores que ofuscam a alegria da existência, tão freqüente quando se possui uma base exclusivamente materialista; porque esta, a causa de sua inata separatividade, é campo propício para desarmonia, e tão desgraçada situação só pode ser solucionada devidamente por meio da sabedoria (GNANA). Os seres humanos, individualmente, são os que poderiam criar semelhante sociedade se conseguirem gerar em si mesmos a verdadeira inteligência. Neste sentido, o Suddha Dharma pode ajudá-los imensamente.
Assim, pois, o primeiro objetivo, que deve o aspirante a Suddha perseguir, é atingir o correto conhecimento e, uma vez alcançado este conhecimento, deve submetê-lo à prova continuamente por meio de sua razão e do Dharma aplicado em sua vida diária, para alcançar a inteligência.
Sobre estes grandes fatos, que constituem a totalidade desta existência, se obterão maiores detalhes quando Bhagavan Sri Mitra Deva se manifestar (???) a fim de pregar os ensinamentos do Suddha Dharma e tirar a humanidade cega de seu caminho atual de destruição, conduzindo-a para o grandioso e verdadeiro objetivo de paz e felicidade.
OM TAT SAT

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