segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

O OÁSIS DE PAZ

Por Mikhail Naimy




Quatro cavaleiros dos quatro cantos da terra, cavalgando graciosas montarias e em trajes magníficos, encontram-se em meio às longas distâncias de um deserto sem trilhas. Depois de trocar saudações, eles desmontam para um pequeno descanso e também descansar seus cavalos esgotados. Como é natural para estranhos encontrando-se tão inesperadamente em tal lugar, os cavaleiros primeiro conversam sobre de onde cada um é e qual o propósito da viagem através daquela desolação vasta e ressecada.

Os cavaleiros surpreendem-se quando se torna aparente que suas histórias são praticamente idênticas. Cada um havia conquistado aquele quarto do globo do qual vinha. Tendo subjugado o último dos seus inimigos, e tendo se cansado da luta, sua alma ansiava por uma paz abençoada. Mesmo esforçando-se duramente, não podiam encontrar em seu vasto domínio a paz ansiada com toda sua alma. O fracasso em realizar esse desejo lançou uma sombra de melancolia sobre suas vidas; transformou suas brilhantes conquistas em negra derrota, envenenou seus sonhos, e fez do seu grande reino uma prisão para seu coração. Não mais podiam apreciar seu alimento ou a caça mesmo como um prazer passageiro.

Por fim, cada um, consultou o homem mais sábio no seu reino, e o homem sábio aconselhou que procurasse o Oásis de Paz em um certo deserto. Nesse Oásis, se uma vez entrasse e bebesse de suas águas, ele conheceria a Paz - Paz perfeita - para todos os seus dias. No entanto, um muro extremamente forte cercava aquele Oásis, no qual havia uma pequena porta que só os CONQUISTADORES podiam abrir.

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Por mais de uma hora, os cavaleiros trocaram contos de batalhas e aventuras, perguntando-se onde o Oásis poderia estar e o quão longe talvez tivessem de ir. Todos os quatro expressaram assombro por um certo fenômeno que perseguia cada um deles desde o momento que eles entraram nesse terrível deserto. Quando puseram-se a caminho, cada um pareceu sentir-se seguido a uma certa distância pelos próprios exércitos e os exércitos que eles tinham conquistado, os exércitos se empenhavam em uma luta amarga de vida e morte. As sombras desses exércitos claramente podiam ser vistas durante o dia, mas suas vozes e o alarido de batalha não podiam ser ouvidos exceto à noite.

Um dos cavaleiros, evidentemente com uma imaginação mais ativa que os outros três, arriscou uma opinião que o que eles viam e ouviam não era nada, mas uma miragem, e que o ouvido tinha muito mais sensibilidade a miragens que o olho. Esta explicação pareceu plausível a seus companheiros e eles prontamente concordaram com ele.

Quando os quatro estavam para retomar sua marcha, viram surgir ao longe indistintamente a figura de um homem com um cajado nas mãos. Andava em direção a eles em passos amplos, medidos. O homem cantava enquanto andava e vestia um flutuante manto negro de pele de bode, seus pés se prendiam em sandálias de madeira. Quando a alguns passos deles, ele cumprimentou-os dizendo, "a Paz esteja convosco".

A saudação desagradou o cavaleiro imaginativo aquele que tinha explicado o olho e a miragem do ouvido a seus companheiros. Disse asperamente ao estranho, "Como pode cumprimentar-nos com a paz? Você encontrou, talvez, o Oásis de Paz?"

"Não" respondeu alegremente o homem simples. "Mas estou a caminho".

"Então sua paz retorne a você, seu descuidado. Como pode alguém dar a paz com a língua quando o seu coração está desprovido de paz"? 13/09/07 Sun
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O estranho acatou a repreensão do cavaleiro com um sorriso e disse, "Você está correto, irmão. A paz pertence aos homens de Paz. É uma linguagem que só corações pacíficos podem entender".

O cavaleiro ficou enfurecido quando o estranho chamou-o como "irmão". Soltando sua fúria, ele gritou ao homem: "Como ousa chamar-me de "irmão" quando você nada mais é que um vagabundo e eu sou o senhor de um quarto da terra? Veja! Nós quatro conquistamos a terra inteira. O que você conquistou para faze-lo sonhar em entrar no Oásis de Paz? Você não sabe que ninguém que não tenha sido um conquistador pode lá entrar?

"Sim, isso não é ignorado por mim”, disse o homem despreocupadamente. "E é porque o sei que estou em meu caminho ao Oásis. Conquistei todos meus inimigos e não matei ou prejudiquei um único homem".

"Que inimigos conquistou quando nós, os senhores da terra, nunca ouvimos falar de você, nem encontramos você e os seus exércitos em qualquer das batalhas que nós lutamos? Não sois, talvez, desta terra"?

"Sou desta terra tanto quanto vocês o são e possuo dela muito mais que quatro de vocês juntos, mas o que eu possuo é diferente daquilo que vocês possuem. Como os inimigos que eu conquistei, vocês também conhecem seu poder para entrar no Oásis. Vamos, assim alcançaremos nossa meta antes de pôr do sol".

"De fato, tão estranho como seu olhar é sua fala. Sabe o caminho ao Oásis"?

"Sim. Sigam-me".

Os cavaleiros remontaram seus cavalos e foram atrás do estranho, perguntando-se nos seus corações se deviam levá-lo a sério. As sombras dos exércitos empenhavam-se numa luta mortal, seguindo-os a uma certa distância, marchando como marchavam, parando quando paravam, e trotando como trotavam. 13/09/07 Sun
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Depois de uma cansativa marcha de várias horas, com o sol flamejante batendo implacavelmente sobre eles, a pequena companhia avistou um luxuriante Oásis. Suas altas e impressionantes árvores levavam gentilmente através do ar a uma longa distância o hálito fresco e aromático do verde saudável. Os pássaros esvoaçaram e chilreavam entre os ramos trêmulos. No meio dessa desolação arenosa, apareceu, como enorme esmeralda num disco imenso de ouro. Aproximando-se, os viajantes encontraram-se face a face com uma parede larga e alta, construída de crânios humanos. Cobras, escorpiões, e vermes de todos os tamanhos, formas, e cores rastejavam e contorciam-se para dentro e para fora dos olhos vazados, mordendo e machucando-se e assobiando hediondamente. A visão era suficientemente horrível para fazer subir arrepios pela espinha de qualquer um.

Olhando essa parede, os quatro intrépidos conquistadores da terra voltaram-se extremamente pálidos. Seus corações contraíram e as suas línguas ataram. O que aumentou seu susto era o fato de que os exércitos lutadores que tinham marchado desde o começo de sua jornada seguindo-os, e que eles tinham acreditado ser umas meras miragens ou alucinações, tornaram-se carne e ossos agora muito reais. Eram seus próprios exércitos e os de seus inimigos empenhados num combate mortal, propagando-se por todo o Oásis.
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Amedrontados pela cena em sua frente e sobre eles, os cavaleiros trocaram olhares embasbacados como se dissessem , "é este o Oásis de Paz? Ou é Gehenna*"? Estavam confusos além da medida quando lembraram-se de seu estranho companheiro e guia para o Oásis. Viram-no sentando-se confortavelmente no chão sem nenhum vestígio no seu rosto de qualquer temor nem qualquer desnorteamento. Pelo contrário, seu rosto irradiou paz e alegria, como alguém que via alguma vista encantadora e escutava sinfonias celestiais. Aproximaram-se timidamente, implorando garantir-lhes que o Oásis ante eles era o Oásis de Paz e que apontasse a porta para entrar. O homem não moveu uma pestana nem um lábio, mas simplesmente gesticulou aos cavaleiros para andar três vezes ao redor da parede e eles o fizeram.

Quando voltaram ao seu ponto de partida, os quatro reis do globo acharam o estranho parado na frente de uma porta pequena baixa, que eles não tinham visto antes. Acima da porta, eles viam um grande aviso, escrito em letras grandes, luminosas.

ESTE É O OÁSIS DE PAZ.
NINGUÉM PODE ENTRAR EXCETO CONQUISTADORES.

O aviso pareceu restaurar nos cavaleiros assustados sua coragem e confiança. Logo que leram, um deles andou firmemente e lentamente à pequena porta e empurrou-a com seu dedo indicador. A porta não abriu. Empurrou-a com o seu punho. Outra vez, ela não abriu. Chutou-o com sua bota, mas nenhum proveito. Enfurecido pelos seus fracassos repetidos, ele jogou o peso de todo seu corpo contra a porta. A porta permaneceu firme e nem mesmo soltou um fraco chiado. 13/09/07 Sun
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Então o segundo cavaleiro deu uma volta, então o terceiro, e o quarto. Finalmente, todos quatro combinaram seu poder e peso contra essa porta minúscula, mas sequer se moveu a espessura de um cabelo. O estranho todo o tempo só olhava, mantendo sua paz. Sua paciência e seus recursos exauriram, os quatro cavaleiros fizeram então um conselho para decidir qual o melhor meio para resolver o feio dilema.

Um feliz pensamento reluziu pela mente de um deles, que a inscrição acima da porta podia querer dizer que nenhum deles conquistou a terra inteira, mas só um quarto dela. A única solução, portanto, seria os quatro competirem entre si sua força e proeza. E talvez o mais forte abrisse a porta e a mantivesse aberta para os outros três. A solução prontamente foi aceita por todos.

Durante muito tempo fizeram os quatro cavaleiros cargas e contra-cargas contra a porta até que três deles caíram ao chão. O quarto que permanecia na sela, soltou um grande suspiro de alívio, e prepotentemente anunciou, "sou o senhor da terra"! Desmontando, ele andou arrogantemente em direção a porta, empurrou-a com sua lança, chutou-a, ora com um pé, ora com o outro, mas a porta permaneceu firme como uma montanha. Em desânimo completo e repugnância, ele olhou para o quinto peregrino e disse com desprezo, "Ó, vagabundo! Talvez saibas o segredo desta porta. Você a abriria para mim"?

"Sim”, respondeu com confiança, não se sentindo ofendido com a maneira zombeteira do cavaleiro. Com firmeza e a passos sem pressa, ele andou até a porta. Tão logo tocou-a suavemente com sua mão ela escancarou-se, revelando atrás dela um jardim maravilhoso tal como pode ser visto em sonhos, e isso muito raramente. Era um paraíso verdadeiro.
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Imediatamente depois que o homem estava dentro, a porta girando fecha-se atrás dele, deixando o "senhor da terra" fora, grandemente perplexo. Com o coração partido e derrotado, ele gritou ao homem dentro, "Em nome de Deus, esquisito companheiro, explique este mistério para mim. O aviso acima da porta não diz que ninguém pode entrar exceto conquistadores?

"Sim é o que diz," respondeu de dentro o estranho.

"Como, então, a mim, o senhor da terra inteira, é negada admissão, enquanto você, um vagabundo miserável, é admitido tão prontamente e com tal insuperável facilidade"?

"Simplesmente porque conquistei, e você não", foi a suave e confiante resposta do estranho.

"Mas quem você conquistou, idiota? Eu nunca vi seu rosto miserável em qualquer de minhas batalhas.

"Conquistei-me".

"Que gloriosa conquista! Um rato conquistando um rato! Faz-me rir".

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"Ria, poderoso Rei. As hienas permanecem sobre os cadáveres e sempre riem. Mas elas não conhecem a Paz".

"Não é a Paz o prêmio da vitória"?

"Paz é o prêmio da vitória sobre si mesmo. Vencer outros pela força dos braços é fazer surgir no vencedor cobiça e arrogância e nos crânios as dores, humilhações, aflições, e malícia do vencido. Isto é uma barreira insuperável para a Paz, para ambos vencedor e vencido. Vencer outros é viver em temor perpétuo de vingança, esse temor é o inimigo mais mortal da Paz. Ao passo que vencer as próprias paixões animais com nenhuma outra arma além de Amor, Caridade, e Entendimento Sagrado em unidade com toda criação é viver em paz consigo e com todas as coisas e criaturas na terra sob e acima dos céus. É só para tais conquistadores que este Oásis é posto no meio de um tal ilimitado, deserto sem trilhas".

"Nunca aceitarei isso seu infantil tagarela, nem hei de jamais entregar meu reino até que eu entregue minha vida".

"E você nunca conhecerá a Paz, ó iludido Rei, embora domine os quatro cantos da terra"!


*Gehenna – O inferno Judeu

3 comentários:

  1. Adorei esse texto!
    Ter não é poder, ter poder é ser!!!!
    Beijos,
    Karine

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  2. Olá Margareth!

    Você que traduziu esse texto? Está muito bonito. Tenho a versão inglesa.

    Cordialmente,

    Maria Dulce

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  3. Oi Maria Dulce,
    Namaskaram,

    Não, não fui eu que traduzi este texto.
    Lindo, né ?
    Realmente magnífico !

    Desculpe a demora na resposta, estava com dificuldades de acessar a parte interna do Blog, desalinhos do provedor...rsrsrsrs

    Na minha opinião, Mikhail Naimy é um auto- realizado ou caminha pra esta direção.

    Brigadaaaa por estar conosco !
    Bem vinda sempre !
    bjs,
    Margareth,

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