segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Lenda da Vida Divina - A Fênix

Por: Mikhail Naimy




A mais árdua tarefa para a mente talvez seja o discernimento entre a realidade da existência e suas ilusões. Reflexão, é o que falta à maioria das pessoas que não hesitam um momento em colocar fronteiras entre o que chamam realidade e o que lhes agrada determinar como ilusão ou mito. Assim, por exemplo, o corvo, de acordo com elas, é uma realidade, enquanto a Fênix é apenas puro mito no qual crêem apenas os simples de espírito e os antigos.

Aqueles que desejam colocar-me entre os antigos e os simples de espírito, que o façam; porque eu, acredito na Fênix. Acredito por que creio na imaginação que a criou. A imaginação não é real? Por conseguinte, tudo que a imaginação concebe, gera e alimenta, seja bonito ou feio, faz parte da realidade da imaginação. Encarem a imaginação que opera incessantemente, e constataremos que só uma ínfima parte das suas operações toma uma forma tangível. Entretanto se atentarmos para esta ínfima parte, tomando-a por real, e rejeitarmos todo o resto, tomando-o por ilusório ou não-real, a imaginação será um mito e o homem ele mesmo, uma lenda. Uma imaginação que dá nascimento a um pássaro como a Fênix é uma imaginação criadora em si própria e por si própria.

O Homem criou a Fênix e tem o direito de contemplar a sua criação e dizer “vi que isso era bom”. Acrescentarei também - e tanto pior se me acusam de blasfemo - que Deus Ele mesmo, se tivesse pensado tal pássaro, teria criado um semelhante. Pode-se dizer que a imaginação do Homem completa a imaginação do seu Criador. Deus não criou o Homem “à sua imagem e semelhança”?

Entre numerosos relatos sobre esta lenda conta um que a Fênix vive na península arábica. Escapemos então, por alguns minutos, da prisão das paredes e dos tetos e invadamos em imaginação esta parte da península que os antigos chamavam “Arábia Feliz” e que conhecemos hoje sob o nome do Yemen; talvez tenhamos assim a possibilidade de observar a Fênix em seu habitat.
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Eis que o sol que se levanta no horizonte. O céu é de um azul puro e a fresca brisa da manhã sopra entre as árvores, balançando suas folhas tenras. Um rio profundo corre majestosamente ao longo da floresta para o mar, carregando sobre a sua superfície límpida os reflexos das árvores e de arbustos que se abraçam sobre as duas margens. Por toda à parte reinam beleza e paz; crer-se-ia num jardim paradisíaco.

Mas as árvores nos avisam para não se confiar nas aparências, porque sabem que nelas, sobre elas e ao redor delas, a perpétua luta entre a vida e a morte se faz presente. Todas as criaturas da floresta, as que caminham, que rastejam ou que se sobrepõem ao vento perseguem-nas seus predadores, procuram incessantemente o seu alimento ou se transformam em alimento para os outros. Não escapa nada neste turbilhão, nem mesmo as rochas. Tudo o que emerge da terra, esta, pouco a pouco, absorve-o para transformá-lo em animais, pássaros, répteis, insetos, árvores, ervas e flores. A vida, aqui, como por toda parte sobre a Terra, arde como chama sem consumir-se.

Sobre o cimo da árvore mais elevada da floresta está pousado um pássaro que não tem similar no mundo. Dirige o seu olhar para o Sol. Cada pluma do seu peito púrpura sedoso, parece se abrasar de um fogo proveniente de um outro mundo. Cada pluma das suas asas douradas, cujas extremidades parecem mergulhadas num azul de fazer desvanecer o azul do céu. O seu pescoço, gracioso e belo, ornado de um colar de brancura imaculada, é arqueado para frente, enquanto a sua cabeça delicada é trazida ligeiramente para trás, apontando assim o seu fino bico para o Sol. 06/12/07 Sun
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Este pássaro une a plumagem do pavão e a beleza da ave do paraíso, sem a arrogância do primeiro nem a timidez do segundo. Contempla o Oriente com quietude como se ignorasse a existência, no mundo, de coisas além do Sol, fonte de Luz e Vida. A redor dele muitos pássaros de todos os tamanhos batem asas e, passando na frente dele, cumprimentam-no com respeito e admiração. Vigorosas borboletas para chegar até ele, esvoaçam duas ou três vezes, retornando à terra, gratas e deleitadas.

Na floresta, ressoam inúmeras vozes de pássaros ou de cervos que chamam as suas companheiras. Exceto este estranho pássaro, não chama ninguém e ninguém o chama. Não tem nem companheira nem camarada, nem ao Leste nem ao Oeste, nem em nenhum dos mundos em revolução no espaço. Os outros pássaros ocupam-se em construir ninhos ou ensinar avezinhas, enquanto ele não tem nem ninho para construir nem pequenos para alimentar. Os outros voam cá e lá, procurando de que subsistir, enquanto que ele alimenta-se apenas de incenso e perfumes. Os outros pássaros gritam aterrorizados quando se encontram agarrados pelas garras dos seus predadores; ignora o medo porque não faz mal a nenhuma criatura e nenhuma criatura lhe faz mal. É único no mundo, mas no seu coração não há nem solidão nem melancolia. Os outros pássaros trocam de plumagem uma vez por ano; ele não trocou uma só pluma desde a idade de um dia - e isso há quinhentos anos!

Muitas árvores nasceram na floresta, ascenderam para as nuvens, envelheceram, desintegraram-se e renderam o lugar a outras árvores. As estações precipitaram inúmeras gerações de pássaros, de insetos e animais, seguidamente, substituindo-os por outras. E para além dos limites da floresta, no reino dos humanos, onda após onda dos trabalhos dos homens quebrou-se, e dispersou-se sobre as rochas do Tempo sem início nem fim. 06/12/07 Sun
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Nações inteiras nasceram, seguidamente eclipsaram-se como se nunca tivessem existido. Numerosas cidades cresceram, torres e cúpulas em direção ao céu, para por fim se apagarem na poeira. Reinos se elevaram para cair. Conquistadores e conquistados, heróis e crápulas, amantes e amados, cabeças coroadas e cabeças sem coroas - todos caminharam sobre a terra, seguidamente a Terra retomou-os no seu seio de modo que outras crianças caminhassem sobre ela e à sua volta. Onde outrora corriam poderosos rios, arbustos selvagens crescem hoje; as formigas construíram lá suas vilas e os ratos seus covis.

Quantos jardins foram engolidos pelo deserto e quantos desertos tornaram-se verdes e floresceram! Quantos deuses foram destronados e quantos foram entronizados! Tudo no mundo se alterou em cinco séculos. Exceto este pássaro aos olhos do qual - como aos olhos de Yahvé - “Mil anos são como ontem, um dia que se vai, como uma hora da noite”.

Mas para a Fênix também, chega a hora de “transformar-se”. Nenhum som é murmurado aos seus ouvidos. Nenhum dedo indica seu caminho. Nenhuma força externa ordena-lhe que faça o que tem a intenção de fazer. Guiada por ela mesma, ouvindo somente a sua vocação interna, volta-se para o Noroeste, e após ter batido asas três vezes, sobrepõe-se ao vento. Nenhuma lamentação em seu coração pelos cinco séculos precedentes que abandona atrás de si e não tem medo dos cinco séculos vindouros que vai enfrentar. Conhece perfeitamente a boa via.

No Vale do Nilo, há uma cidade que os Egípcios chamavam Annu, os Hebreus Beth-Shemesh e os Gregos Heliópolis. Nesta cidade, há um templo consagrado ao culto do Deus Rá.

A Fênix conhece a cidade, o santuário e o lugar do altar onde deve findar-se, porque desde inúmeras gerações, empreende esta peregrinação uma vez a cada quinhentos anos a fim de receber a Morte; e uma vez a cada quinhentos, torna a partir, deixando a Morte surpreendida e perplexa. 06/12/07 Sun
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Eis a Fênix que rompe o ar com suas fortes asas, acelerando para o Vale do Nilo. Diversos pássaros se agrupam ao seu redor para a escoltar, não a deixando só durante nenhuma parte do trajeto, e prestam-lhe homenagem e respeito. Ela não cessa de percorrer as distâncias até o momento em que lhe aparece Heliópolis.

No santuário de Rá, o sol penetra por uma janela acima do altar e os seus raios se fundem com a fumaça do incenso para entrançar riachos de ouro e de prata semelhantes às respirações de espíritos. Estas tranças ondeiam e desfazem-se sobre o altar, semelhantes a fios tendidos sobre um misterioso tear, como se uma mão invisível fabricasse estranhos tecidos. No vasto templo, está apenas um velho sacerdote mergulhado em suas contemplações.

De repente, o sacerdote ouve um bater de asas que interrompe o curso das suas meditações. Levantando os olhos, vê sobre o altar um pássaro maravilhoso banhado na Luz do Sol. Nunca os seus olhos viram algo mais bonito! Fica maravilhado. Mas seu maravilhamento não demora a transformar-se em temor porque, dirigindo o seu olhar sobre o pássaro, vê-o levantar-se, bater violentamente as asas para cima; então, em um momento, suas asas inflamam-se para transformar-se num leque de fogo e o pássaro funde-se nos raios do sol, a ponto de o sacerdote não poder mais distingui-lo. Um momento mais tarde, as asas levantam-se ainda, cessam então de bater e cada uma de suas penas assemelha-se a uma tocha viva.

O sacerdote, deslumbrado, não crê nos seus olhos. Onde viu, um momento antes, um pássaro vivo, não vê mais que línguas de fogo que saltam. É um fogo como nunca viu, um fogo que cega por seu esplendor e embriaga pelo seu perfume. Abençoado seja Rá, o Eterno, em que está a Vida e que dá vida a todas as coisas!

As chamas preenchem o templo de maravilhosos fantasmas, saltitantes para as alturas, esgotando-se nos seus saltos. Pouco a pouco, o fogo apaga-se, deixando um punhado de cinza incandescente. 06/12/07 Sun
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Que lástima um pássaro assim bonito perecer de uma maneira tão desoladora! Mas... realmente pereceu?

O sacerdote fricciona os olhos para estar certo de que não sonha. Então vê - milagre! – um novo pássaro, o mais detalhado possível, emergir do monte de cinza que resplandece, em todo seu esplendor. É idêntico ao pássaro que as chamas acabam de consumir. Dir-se-ia que é ele. Mas... é ele, é verdadeiramente ele! Então, o sacerdote ajoelha-se, cobre os olhos com suas mãos, prosterna-se até a sua cabeça branca tocar o solo e murmura estas mal audíveis palavras:

”Ó Rá ! Tu, ser de beleza que se renova quando chega a tua hora; Criança Divina; Herdeiro da Eternidade; Pai de si mesmo; Príncipe das regiões inferiores e Regente das superiores; Deus de Vida; Senhor de Glória. Cada respiração é animada pelo teu Raio!”

Se, se ofertasse a Fênix como protótipo a uma imaginação audaciosa e fértil, ornamenta-la-ia e a embelezaria até ao infinito. Porque os antigos, considerando ao mesmo tempo a Fênix como um pássaro que vive só e renova-se por ele mesmo, inventaram diferentes mitos relativos a sua morte e o período entre os seus renascimentos. A imagem narrativa que fiz é apenas uma entre, as numerosas, que perderam as suas fontes nos tempos antigos onde se tomava raramente cuidado de anotar os nomes e as datas, porque se preocupava, sobretudo, das verdades imutáveis da Vida ou a Eterna Idéia.

O nome “Fênix” é inegavelmente de origem grega. Um dos significados que lhe é atributo é o de uma espécie de palma. Ora, é possível que os Gregos a descobriram pela primeira vez na Fenícia e lhe deram o nome do país; ou então deram o nome desta palma ao país porque palmeirais encontravam-se em abundância. Eles também podem ter dado o nome de Fênix a este pássaro lendário, pela história dos Fenícios. O parágrafo seguinte, extraído do Hino de Boulaq ao Deus Rá, apóia a hipótese segundo a qual a palavra “Fênix” vem do Fenício: 06/12/07 Sun
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”Glória a Ele no templo quando se levanta da morada do Fogo. Todos os deuses amam seu perfume quando se aproxima da Arábia. Ele, o Senhor do orvalho quando vem de Mathan. Eis que se aproxima o Fenício na sua brilhante beleza, escoltado pelos deuses.”

Se uma dúvida subsiste quanto à origem do nome, a origem do pássaro ele mesmo não é mais difícil de identificar. Pode ser fenício assim como egípcio. O que se assemelha mais nas escritas antigas encontra-se num livro maravilhoso conhecido sob o título genérico de Livro dos Mortos. É uma apaixonante compilação de esoterismo, de filosofia, de poesia e de magia, cujos textos remontam ao século IV antes de Jesus Cristo. Considera-se que esta compilação é a mais preciosa herança que os antigos habitantes do Vale do Nilo nos legaram. Do início até ao fim irradia a crença dos egípcios na imortalidade. A morte, para eles, era apenas uma viagem de um plano a outro ou uma passagem da margem próxima da Vida à sua margem longínqua. Os seus Sábios, sabendo perfeitamente que a ignorância do povo não lhe permitia apreender a Verdade de maneira abstrata, o envolveram de numerosos monumentos simbólicos a fim de facilitar-lhes o caminho do tangível para além do tangível. Entre os seus símbolos, figura um pássaro que se assemelha à cegonha ou a garça-real e que chamavam Bennu, nome derivado de uma raiz que significa “regresso”. Este pássaro era representado nos seus mitos, sobre a cabeça, com duas plumas curvadas para a parte traseira.

Todo aquele que lê o Livro dos Mortos verá que Bennu representa Rá - Deus auto-gerado e que ignora a morte, o Dia que emerge da Noite e a Luz que triunfa das Trevas. Deste ponto de vista, assim como aquele relatado em Heliópolis, nós podemos constatar que Bennu divide um certo número de características com a Fênix. Mas não mais no Livro dos Mortos que em outros textos, é descrito como um pássaro que perece no fogo a cada quinhentos anos ou mais e depois reaparece das suas cinzas. 06/12/07 Sun
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Um sacerdote egípcio chamado Horapollo notou uma sólida relação entre o pássaro egípcio e a Fênix, e isto a partir do século V antes de Cristo. Na tradução grega das suas obras, ele propõe-se a falar de um pássaro conhecido dos Egípcios e nas suas tradições. Na tradução grega é chamado “Fênix”. Após ter descrito o aparecimento deste pássaro uma vez a cada quinhentos anos, descreve a sua morte do seguinte modo:

”Quando a Fênix sente a hora da sua morte próxima, precipita-se violentamente sobre o solo, fere-se e deixa o seu sangue esvair. De seu sangue coagulado, nasce uma nova Fênix. Esta, logo que se cobre de plumas, leva seu pai a Heliópolis. Lá, o pai morre à aurora. O seu corpo é queimado pelos sacerdotes egípcios enquanto a nova Fênix retorna para a sua pátria.”

Após Horapollo, o relato da Fênix espalhou-se e adquiriu uma grande notoriedade no Ocidente a ponto de chamar a atenção os antigos historiadores, poetas e teólogos, entre os quais Heródoto. Este historiador, durante relato de uma viagem efetuada ao Egito, fala da Fênix como se fosse um pássaro árabe. Em seguida acrescenta com reserva: “Mas eu, o vi apenas em imagens”. Em contrapartida, o poeta Ovídio descreve-a sem nenhuma reserva. Fala da Fênix como um pássaro que se renova por ele mesmo e se alimenta unicamente de perfumes. Diz que após ter vivido quinhentos anos, a Fênix constrói um ninho de canela, mirra e lavanda sobre o cimo de uma palma. Neste ninho, se rende à última respiração e do seu cadáver nasce uma Fênix nova. Esta última, após ter tomado forças, vai a Heliópolis, onde ela se oferece ao santuário do Sol, o ninho que foi ao mesmo tempo seu berço e o túmulo de seu pai.

Mais audacioso que Ovídio, o historiador Tácito, sob o cônsul Paulus Fabius ( no ano 34 após Cristo) não hesita em descrever o aparecimento da Fênix como um fato histórico. 06/12/07 Sun
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Assim, a lenda da Fênix foi contada e redigida por vários escritores e poetas da Antiguidade, os Pais da igreja estão entre os mais entusiastas neste estudo. Tertuliano, Clemente de Alexandria e Epifânio viram um símbolo da ressurreição de Cristo. Outros lá encontraram um prova irrefutável da imaculada concepção.

Entre as escritas eclesiásticas mais antigas, onde se encontra mencionada a Fênix, é o livro alexandrino Physiologos. Trata-se de uma compilação de relatos pagãos sobre os animais e os pássaros, de onde compiladores tiraram sermões, preceitos e argumentos religiosos. Lê-se que a Fênix é um pássaro indiano que se alimenta apenas de Éter e que, uma vez a cada quinhentos anos, se dirige para Héliopolis portando sobre as suas asas uma grande variedade de aromáticos. Lá, se incinera sobre o altar templo e de suas cinzas salta um verme que, em três dias, se metamorfoseia em Fênix, a qual saúda então o sacerdote e retorna para seu país.

Há, em latim, um livro intitulado Anecdota Syriaca, onde a lenda da Fênix é descrita do seguinte modo:

”... Diz-se também que nas Índias, existe um pássaro formidável que vem a cada cinqüenta (sic) anos ao Monte Líbano. Ali, ela colhe os mais suaves perfumes e as flores mais bonitas em seguida retorna às Índias. A sua chegada tem lugar ao mês de Abril. Este mês, o padre da região constrói um altar no cimo de uma elevada montanha e constrói ao redor uma casa com sarmentos de vinha. Quando o pássaro chega, entra na casa, põe-se sobre o altar, em seguida bate asas até transformarem-se em chamas; a casa pega fogo com tudo e reduz-se a cinzas. Três dias depois, o padre escala a montanha e inspeciona as cinzas onde encontra um minúsculo verme. Este verme cresce para transformar-se num pássaro idêntico ao que se consumiu. Este pássaro volta então para onde veio.” 06/12/07 Sun
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A crença na Fênix continuou viva até à época da renascença; depois recuou com o advento da “ciência” que crê apenas em prova “tangível”. A lenda tornou-se “fábula” à qual poucas pessoas passaram a interessar-se, a maioria conhecendo apenas o nome. Mas a Fênix não naufragou na negligência e esquecimento sem deixar impressões indeléveis do esplendor da sua beleza e de seus múltiplos sentidos.

É raro encontrar uma antiga nação que não tenha tecido uma lenda semelhante à da Fênix, nem criado um pássaro que lhe esteja próximo. Os árabes criaram al-‘Anqa’, os persas o Simorg, os hindus o Garuda, os Chineses o Phang-houang e os Japoneses o Hou-aou. Que aquele que deseje conhecer a estatura espiritual de uma nação compare o pássaro que sua imaginação criou. Haverá uma lição interessante e um prazer inegável neste estudo comparado.

De minha parte, saboreio mais o estudo da Fênix. Mas antes de dizer adeus a este pássaro maravilhoso, gostaria de, tanto quanto possível, penetrar o seu segredo e saber com qual intenção foi criado.

Admitindo que a Fênix é um símbolo. Mas o que simboliza? Seria a aspiração do homem mortal a imortalidade? Seria uma máscara de beleza tecida pela ilusão para olhos ulcerados pela fealdade? Ou uma visão inspirada que, de um piscar de olhos, ilumina eternidades e penetra, através das formas, o Espírito e a essência de todas as coisas?

A grande maioria dos investigadores que se pronunciaram sobre a Fênix fugiu do mistério afirmando que foi para os antigos Egípcios o símbolo do Sol, seu pôr-se e seu nascer, porque eles adoravam o Sol sob o nome de Rá. Não sendo nem investigador nem arqueólogo, permitir-me-ei contradizer esta opinião sem arriscar a indignação dos investigadores nem a hostilidade dos cientistas.

Nenhuma duvida que os egípcios adoravam o Sol; mas poderemos nós realmente admitir que os autores do Livro dos Mortos, os construtores das pirâmides, os criadores da Esfinge, Isis, Osíris e os seus Mistérios, os instrutores de Demócrito, de Pitágoras e Platão, adorariam um corpo celeste - por mais grande e mais surpreendente - eles que examinaram o espaço e descobriram as órbitas dos astros? - O Sol, para eles, era apenas um símbolo concreto do Deus abstrato - Rá – auto-gerado, que engloba tudo mas que nada engloba, criador de formas mas que é sem forma, criador de inícios e fins mas que não tem nem início nem fim, todos os Deuses do Egito são apenas aspectos variados deste Deus-Único.

Todo aquele que lê o Livro dos Mortos, mesmo superficialmente, não poderia admitir isto. Ora é impossível que os Sábios do Egito fossem tão ingênuos para simbolizar Rá pelo Sol, criar a Fênix - que somente um pequeno número de eleitos podiam ver uma vez a cada cinco séculos - para fazer em seguida o símbolo do Sol que qualquer pessoa pode ver todos os dias. A Fênix simboliza algo para além do Sol e mais permanente que o Sol: simboliza a Vida no seu duplo aspecto Matéria-Espírito.

No vazio os fenômenos se alternam constantemente, as pessoas habituaram-se a distinguir duas espécies de mudanças e de chamar a primeira vida e a segunda morte. Mas a Fênix parece dizer que Vida e Morte têm uma única fonte: é o Espírito simbolizado pelo Fogo. O Fogo é ainda hoje o mesmo. Absorve as coisas apenas para as multiplicar e diversificar sem multiplicar-se e diversificar-se. É o Fogo - ou o Espírito - esta vida primordial que a ciência moderna chama “energia” e que organiza os átomos de todas as espécies para em seguida dispersa-los. Infiltra-se em tudo, dentro dos enormes icebergs flutuantes sobre os mares como dentro do sol, dentro da pedra assim como dentro da massa de carne que palpita no peito do homem. E quando devora algo restabelece os seus componentes originais. Não se destrói, mas libera-se da sua prisão provisória. 06/12/07 Sun
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. Assim, quando a Fênix consome-se, ela não morre - mesmo por um só um instante - porque o Fogo que é o seu espírito reside latente nas suas cinzas, para em seguida reunir de novo seus átomos e dar forma a uma nova Fênix. Se a Fênix alterna de corpos uma vez a cada quinhentos, não alterna o espírito porque este espírito não está sujeito à descontinuidade nem à mudança.

As pessoas elogiam o que chamam “crescimento” e “progresso”. Mas parece-me que a mensagem da Fênix sobre este ponto é que na vida, não há nem crescimento nem progresso, porque tudo que cresce leva nele mesmo o germe da sua decadência, tudo o que se decompõe não dura quase nada e tudo que não dura não tem existência ou realidade em si, mas extrai a realidade da sua existência da Verdade-Única que é hoje o que tem sido ontem, que será amanhã o que é hoje e que não é sujeita a mais mínima mudança. Não cresce, porque não tem nem forma nem medida, nem início nem fim. Ela não “progride”, porque não existe nada no Universo fora dela. A Fênix nos ensina que o único meio “para crescer” é diminuir, reduzir - desfazer-se das formas exteriores para atingir a Verdade latente nas formas - o Fogo que é o símbolo do Espírito presente em tudo e que é o único sentido de “progresso” é retornar - cada um à sua Héliopolis.

Com respeito à duração de vida da Fênix entre dois renascimentos, varia de acordo com os relatos entre 50, 500, 580, 1461 e 7000 anos e parece certo que indica ciclos e rondas astrológicas. Deixemos isso aos astrólogos porque a tornam objeto de interpretações que não têm nada a ver com as esferas celestiais. Ainda aqui, a Fênix, que vive muito tempo, nos ensina que a idade das criaturas depende da beleza da sua vida interior e a sua harmonia com ela mesma e com as criaturas que a cercam. Esta idade prolonga-se ou encurta-se de acordo com o grau desta harmonia. 06/12/07 Sun
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Podemos também constatar que a Fênix não ataca ninguém para obter o seu alimento e não se bate contra nenhuma criatura para tomar companheiro ou amante; vive em harmonia com todas as criaturas. E por ela não desejar nada, nada teme e vive contudo em paz com todos. Ora não conheço melhor exemplo que o da Fênix para ilustrar a idéia que a pureza do corpo - como a do coração - é uma força incontestável. Este pássaro não se alimenta nem dos vegetais da terra, nem os seus animais, mas de seus perfumes. Assim, vive por longos séculos. Mas este alimento, mesmo tão puro, esta sujeito à decomposição. É assim que o corpo da Fênix decompõe-se, mesmo após séculos. A Ordem superior impôs a todo o que nasce de uma origem variável ser o escravo da mudança; a todo o que se alimenta de matéria tornar-se alimento para a matéria; a todo o que toma, de dar tanto quanto toma; e a todo o que deseja algo exterior a si mesmo, de ser objeto do desejo do que é externo a si mesmo.

Um atributo que é próprio da Fênix é que vive só, sem companheiro da sua espécie. É ao mesmo tempo macho e fêmea. Declara, como Jesus de Nazaré, que é de planos, no Universo, “onde não se toma nem mulher nem marido”, que o macho e a fêmea são dois elementos diferentes durante um ciclo limitado de uma onda de vida e que os dois juntam-se em planos superiores ao nosso.

A você, caro leitor, a quem dedico estes pensamentos - se estás entre os que procuram sondar os mistérios ocultos da Vida - de descobrir umas outras interpretações mais bonitas que as de sempre. Em contrapartida, pode ser que estejas nas fileiras dos que crêem apenas no que vêem e tocam. Então, crer no corvo seria mais legítimo e a Fênix permanecerá para você nada mais que um mito antigo e uma velha lenda. Então toma o teu corvo e dá-me a Fênix! 06/12/07 Sun
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Fecho os olhos e vejo levantar-se diante de mim, de suas ruínas, a cidade de Annu, eterna e luminosa - Héliopolis - a cidade do Sol. Ao centro, vejo o santuário de Rá em toda sua suntuosidade e majestade. Sobre o altar do templo, apercebo um pássaro drapeado de luz, agitando as suas asas formidáveis em batimentos de beatitude e de felicidade. Eis o seu peito púrpura que arde e todas as plumas que se alteram em línguas de fogo. Eis que todo ele, transforma-se em oferenda de fogo, uma luz perfumada e ardente entre a Vida e a Morte. E quando o fogo se apaga e contemplo a Fênix ressuscitar do monte de cinzas, exclamo, encantado, com o sacerdote do templo:

”Ó Rá ! Tu, ser de beleza que se renova quando chega a tua hora; Criança Divina; Herdeiro da Eternidade; Pai de si mesmo; Príncipe das regiões inferiores e Regente das superiores; Deus de Vida; Senhor de Glória. Cada respiração é animada pelo teu Raio!”

4 comentários:

  1. muito bala até pra mim q tenho 15 anos!

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  2. Oi Giovani,
    Namaste,
    Que bom que vc gostou !!!!!
    Sabe, este é um dos meus escritores preferidos....o cara é fera mesmo !!!!!
    Sabia que a sensibilidade não tem idade?
    Quem sentiu algo aqui, foi sua alma !!!!!

    bjs querido,

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  3. OI, MARGARETH!
    PROFUNDA E MISTERIOSA...
    SOMENTE FENIX RECONHECE OUTRA FENIX.
    ABRAÇOS,
    SILVIA fenix_asa@hotmail.com

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  4. É isso mesmo Silvia !!!!!
    Semelhante atrai semelhante !!!!

    bjs querida,
    Namaste,

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