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sexta-feira, 29 de março de 2013
O QUE É UM GURU ?
Esse texto foi escrito por Jonas Masetti no site satsangaonline.
Afinal de contas o que é um Guru ?
“Guru” é uma palavra popularmente utilizada no mundo, porém, seu significado original poucos conhecem, e por isso somos constantemente surpreendidos sem saber o que esperar deles.
“O que é um guru? O turbante laranja?”
No mundo espiritual essa palavra possui duas utilizações populares:
1 – Utilizamos a palavra guru como sinônimo de “guia, mestre ou professor”. Então dizemos que essa pessoa é um guru ou um mestre no sentido que dá orientações e ensinamentos de vida. E em muitos casos é considerado como um título, ou até visto como uma profissão.
2 – O segundo significado é de uma pessoa com uma benção especial, capaz de prever o futuro, curar doenças ou qualquer outra capacidade fora do normal. Nesse caso a palavra guru se iguala ao nosso entendimento de uma pessoa “santa” ou especial. Esse significado se estende mesmo fora da espiritualidade, então vamos ter o “guru da bolsa”, “guru das compras” e assim vai.
Apesar de usarmos a palavra guru com esses significados e não precisarmos mudar nossa forma de se comunicar, conhecer o significado original pode elucidar outras questões que aparecem no nosso relacionamento com os “gurus” desse mundo.
Primeiramente vamos esclarecer que “guru” não é uma profissão. É apenas uma palavra que expressa o relacionamento de duas pessoas, assim como “pai, amigo, ou filho”. E, portanto, o uso da palavra guru, ou equivalente como um título que define uma pessoa, do ponto de vista da tradição, não é o mais apropriado. O guru para uma pessoa pode ser uma amigo para outra, a verdade é que o papel de “guru” é algo que aparece naturalmente devido à natureza desse conhecimento. Se não fosse a peculiaridade do conhecimento que estamos almejando, poderíamos dizer que a palavra professor seria mais adequada para se referir a alguém que se propõe a ensinar sobre autoconhecimento e vedanta. Entretanto existe algo de especial com esse tema e papel que dá razão a esse nome “guru“.
Não é nenhum poder mágico específico, apenas o fato de que o autoconhecimento é algo precioso e que não pode ser descoberto sozinho. Sendo preciso alguém que abra essa porta para gente, essa pessoa recebe esse nome especial “guru“. Nada mais é do que um professor, cujo tema de ensino é o autoconhecimento.
Podemos tentar, afinal de contas é o que todos fazemos. Depois de tentar bastante e de boas orações temos a oportunidade de escutar e apreciar um fato interessante. Existem disponíveis para nós dois tipos de conhecimentos no mundo. O conhecimento de objetos externos, que são diferentes de nós e o conhecimento do sujeito, aquele que vê, escuta e age.
Com o primeiro dos dois estamos bem acostumados a lidar. Aprendemos certas coisas sozinhos, outras por acaso nos deparando com uma situação ou objeto, e ainda outras que, apesar de sabermos que é possível alcançar sozinhos, não dispensamos o uso do professor como o sânscrito ou a matemática.
Já o conhecimento do sujeito, quanto mais exploramos, mais percebemos que não conhecemos nada e não temos acesso a informação. Achamos que estamos progredindo explorando emoções, situações do passado e experiências na meditação. Porém, depois de um tempo, entendemos que emoções também são objetos e as situações são diferentes de nós. De certa forma até parece que esse é o nosso problema nos associamos a coisas e não conseguimos estabelecer uma identidade independente dos objetos a nossa volta. Essa confusão entre sujeito e objetos é algo muito natural, porém toda experiência requer a divisão entre sujeito e objeto e por isso podemos dizer com segurança que tudo que experienciamos é diferente de nós, seja através do sonho, na meditação ou do estado acordado.
Assim a má notícia é que o “eu” não pode ser investigado sozinho, ou através de nenhum meio de experiência, em outras palavras não temos um meio de conhecimento disponível para ele.
E a boa notícia é que não é um beco sem saída. Embora os nossos olhos possam ver tudo nessa criação com exceção de si mesmos, os olhos podem ser vistos pelos próprios olhos, através de um espelho. Em outras palavras é cabível que exista um meio de conhecimento para o sujeito que não está disponível para ele em primeira mão.
Os Vedas e mais precisamente sua parte final chamada de Vedanta tem como propósito ser esse meio de conhecimento. E o processo de estudo de acordo com o próprio texto requer um professor que tenha passado pelo processo, certo preparo do estudante e uma vida de yoga, que inclui valores e a saúde do corpo e da mente.
Tendo entendido a natureza desse conhecimento e o papel do professor no processo, podemos então eliminar o segundo uso popular da palavra guru, ou seja, do guru como alguém que possui um poder paranormal. De acordo com a tradição védica o guru é apenas o professor que com auxílio dos Vedas revela a natureza do “eu” para os alunos. Apesar de ser possível que o guru tenha realmente alguma benção causadas por uma vida de orações e asceses, se ele realmente for um guru sua preocupação em se mostrar como uma pessoa normal não deixará ele promover sua imagem através dessas capacidades. Afinal de contas isso seria um obstáculo para o aluno. Se o aluno tem que aprender e seu interesse é pelo conhecimento, é importante encontrar alguém que tenha uma vida parecida com a dele e que possa ajudá-lo a transpassar os obstáculos, e não um homem santo vestido de laranja em uma caverna que traria a idéia que esse conhecimento é algo intangível. Quando o professor ou guru é uma pessoa tangível na nossa frente talvez ele não seja tão inspirador como um homem santo com super-poderes, mas não existe melhor maneira de aprender do que com alguém igual a nós, que mostre como é possível cruzar essa jornada, sem passes de mágica.
Existem muitos aspectos que constituem a relação entre guru e shishya, ou mestre e discípulo dentre elas: a relação de confiança criada, a entrega do ego, as inevitáveis projeções emocionais, a observação dos valores e muitos outros ensinamentos que nascem da própria convivência. Tudo isso junto forma o ambiente necessário para transmissão do conhecimento de forma efetiva. Como esse ambiente é algo precioso, o professor em geral sempre toma certos cuidados, que quando estão faltando não são bons sinais.
Preocupação demasiada com “namaskaram” (saudações) ou algum tipo de tratamento especial, mostrando que o professor tem alguma necessidade de afirmação através do aluno ou simplesmente quer se colocar como superior a ele.
Criação de dependência psicológica ou emocional, com muitos elogios desnecessários ou onde o aluno não fica a vontade de parar de estudar sem decepcionar o professor. A relação guru shishya é baseada na liberdade e não em uma regra de conduta onde “você agora não pode ler nenhum livro ou ouvir nenhum professor que não seja eu!”.
Aulas não são cobradas adequadamente, ou muito caras ou muito baratas. O dinheiro é símbolo do nosso esforço e suor é importante que o professor e o aluno valorizem as aulas com um valor justo e que essa não seja uma questão constantemente em pauta.
Troca de papéis onde o professor cria relações afetivas com alunos(as), problema esse que é agravado quando o professor é um renunciante ou swami, ou seja, fez um voto de não ter relacionamentos. Muito da troca entre professor e aluno é baseado no fato de que o professor é alguém neutro, no momento que se cria uma relação afetiva seja através de sexo, ou uma atenção desproporcional, existe uma quebra natural desse papel e o rompimento do fluxo de conhecimento. Dependendo da situação é possível se reestabelecer uma nova relação, mas muitas vezes ocorre um trauma com o colapso da personalidade.
Como o processo de estudo requer a escolha do estudante, o convite forçado por parte do professor para alunos assistirem suas aulas também vai de encontro com o processo de aprendizado. Em geral a regra é “não estude com quem te convida!” o professor apenas se coloca disponível a iniciativa é de quem tem o interesse em aprender.
E por fim, se pararmos para analisar, esse conhecimento é apenas recebido por nós, não temos nada a adicionar a ele, somos apenas mais um canal que repassa o que foi aprendido para frente. Assim a verdade é que ninguém pode clamar pela sua autoria e é por isso que os professores tradicionais não se apresentam como gurus e sim como discípulos. Essa tradição de conhecimento apresentada pelos Vedas é formada por discípulos e não por “gurus”. O único guru é o próprio criador que entrega os ensinamentos na mão dos Rshis no início de cada ciclo da criação e fala através de cada um de seus discípulos.
Dos versos da tradição que falam sobre guru e o seu papel, esses dois se conectam bem com as explicações dadas.
गुकारस्तु अन्धकारो वै रुकारस्तन्निवर्तकः ।
अन्धकार-निरोधित्वात् गुरुरित्यभिधीयते ॥
A sílaba “gu” significa a “escuridão” e “ru” o “removedor da escuridão”, devido ao fato de ser o removedor da ignorância, (esse que a remove) é chamado de “guru“.
अज्ञानतिमिरान्धस्य ज्ञानाञ्जशलाकया
चक्षुरुमीलितं येन तस्मै श्री गुरवे नमः
“Saudações ao guru que remove a ignorância, como o médico que remove a catarata dos olhos.”
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