segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

"Mentiras" - por Danuza Leão




Quantas mentiras nos contaram; foram tantas, que a gente bem cedo


começa a acreditar e, ainda por cima, a se achar culpada por ser


burra, incompetente e sem condições de fazer da


vida uma sucessão de vitórias e felicidades.



Uma das mentiras:






É a que nós, mulheres, podemos conciliar perfeitamente as funções de


mãe, esposa, companheira e amante, e ainda por cima ter uma carreira


profissional brilhante..






É muito simples: não podemos.



Não podemos; quando você se dedica de corpo e alma a seu filho


recém-nascido, que na hora certa de mamar dorme e que à noite,


quando devia estar dormindo, chora com fome, não consegue estar bem


sexy quando o marido chega, para cumprir um dos papéis considerados


obrigatórios na trajetória de uma mulher moderna: a de amante



Aliás, nem a de companheira; quem vai conseguir trocar uma idéia


sobre a poluição da Baía de Guanabara se saiu do trabalho e passou no


supermercado rapidinho para comprar uma massa e um molho já pronto


para resolver o jantar, e ainda por cima está deprimida porque não


teve tempo de fazer uma escova?



Mas as revistas femininas estão aí, querendo convencer as mulheres -


e os maridos - de que um peixinho com ervas no forno com uma


batatinha cozida al dente, acompanhado por uma salada e um vinhozinho


branco é facílimo de fazer - sem esquecer as flores e as velas


acesas, claro, e com isso o casamento continuar tendo aquele toque


de glamour fun-da-men-tal para que dure por muitos e muitos anos.



Ah, quanta mentira!



Outra grande, diz respeito à mulher que trabalha; não à que faz de


conta que trabalha, mas à que trabalha mesmo. No começo, ela até


tenta se vestir no capricho, usar sapato de salto e estar sempre


maquiada; mas cedo se vão as ilusões.. Entre em qualquer local de


trabalho pelas 4 da tarde e vai ver um bando de mulheres maltratadas,


com o cabelo horrendo, a cara lavada, e sem um pingo do glamour -


aquele - das executivas da Madison.



Dizem que o trabalho enobrece, o que pode até ser verdade.


Mas ele também envelhece, destrói e enruga a pele, e quando se


percebe a guerra já está perdida..



Não adianta: uma mulher glamourosa e pronta a fazer todos os


charmes - aqueles que enlouquecem os homens - precisa,


fundamentalmente, de duas coisas: tempo e dinheiro.



Tempo para hidratar os cabelos, lembrar de tomar seus 37 radicais


livres, tempo para ir à hidroginástica, para ter uma massagista


tailandesa e um acupunturista que a relaxe;


tempo para fazer musculação, alongamento, comprar uma sandália nova


para o verão, fazer as unhas, depilação; e dinheiro para tudo isso e


ainda para pagar uma excelente empregada - o que também custa


dinheiro.



É muito interessante a imagem da mulher que depois do expediente vai


ao toalete - um toalete cuja luz é insuportavelmente branca e fria,


retoca a maquiagem, coloca os brincos, põe a meia preta que está na


bolsa desde de manhã e vai, alegremente, para uma happy hour.



Aliás, se as empresas trocassem a iluminação de seus elevadores e de


seus banheiros por lâmpadas âmbar, os índices de produtividade iriam


ao infinito; não há auto-estima


feminina que resista quando elas se olham nos espelhos desses


recintos.



Felizes são as mulheres que têm cinco minutos - só cinco - para


decidir a roupa que vão usar no trabalho; na luta contra o relógio o


uniforme termina sendo preto ou bege, para que tudo combine sem que


um só minuto seja perdido.



Mas tem as outras, com filhos já crescidos: essas, quando chegam em


casa, têm que conversar com as crianças, perguntar como foi o dia na


escola, procurar entender por que elas estão agressivas, por que o


rendimento escolar está baixo.



E ainda tem as outras que, com ou sem filhos, ainda têm um namorado

que apronta, e sem o qual elas acham que não conseguem viver .



Segundo um conhecedor da alma humana, só existem três coisas sem as


quais não se pode viver: ar, água e pão.



Convenhamos que é difícil ser uma mulher de verdade; impossível, eu


diria.



Parabéns para quem consegue fingir tudo isso....

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