Por: ERNANI FORNARI
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Um lugar virtual para expor minhas ideias... Ministro cursos específicos da escola Suddha Dharma Mandalam, que se localiza dentro do Instituto de Cultura Hindú "Naradeva Shala", abrangendo um enfoque holístico, associados aos estudos esotéricos do "Sanatana Dharma" e do Yoga Brahma Vidya. Meu e-mail é: devi.devidasika@gmail.com
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terça-feira, 15 de abril de 2014
SOBRE A MEDITAÇÃO
Ao longo dos mais de 15 anos em que fui instrutor de Yoga no Rio de Janeiro, frequentemente como resposta à pergunta que eu sempre fazia - se ele, o aluno, meditava - ou de forma espontânea, muitos alunos “reclamavam” decepcionados e frustrados que tentaram mas não haviam conseguido meditar.
Ao que eu perguntava o que eles haviam feito na tentativa.
Normalmente respondiam que haviam ficado sentados de olhos fechados tentando não pensar...
E eu perguntava em seguida sobre o efeito disso e a resposta era muitas vezes...dor de cabeça!
Realmente, ficar tentando forçar parar de pensar é um tipo de exercício que certamente dará dor de cabeça!
E na nossa cultura ocidental, onde se misturou consciência com pensamento (lembra do “penso logo existo”?), ainda existe uma crença de que é o cérebro quem produz os pensamentos
Mas o oriente diz que a mente pensa por si mesma.
Os pensamentos são pensados por si mesmos.
Ninguém os produz deliberadamente e conscientemente, na maior parte das vezes.
Os pensamentos (ou vrittis, no Yoga) vem das profundezas do inconsciente pessoal e do coletivo, das memórias desta e das vidas passadas, das memórias desta e das gerações passadas.
Os pensamentos - a sua qualidade e a sua quantidade - vem dos samskaras (impressões, memórias e registros psico-emocionais) e dos vasanas (tendências, hábitos, personalidade) como se diz no Yoga.
Ou dos corpos energéticos, como se diz no Alinhamento Energético.
Então, da mesma forma que é impossível fazer-se um rio parar de correr, é impossível fazer a mente parar de pensar – pelo menos neste primeiro momento do nosso nível evolutivo.
Mas da mesma forma que é possível sair do rio caudaloso e sentar-se na margem para observar seu fluxo, é possível sair do fluxo da mente que pensa, e ficar da sua margem observando.
A meditação pretende resgatar uma faculdade que a nossa cultura ignorou – e que os orientais conhecem muito bem – que é a mente testemunha, isto é, é a parte do psiquismo que é capaz de se distanciar e de observar sem racionalizar, sem julgar, sem avaliar e sem valorar.
Apenas está ali, absolutamente no presente, observando de forma passiva, neutra e isenta o que se apresenta.
A idéia da psicologia oriental, é que a verdadeira compreensão só acontece quando observamos os eventos – internos e externos - de forma neutra, sem especulações racionais nem julgamentos. Apenas observamos. E só assim compreendemos.
Os índios chamam a isso de “visão da águia”.
Enquanto estivermos observando a vida através da lente das nossas doutrinas, crenças e bandeiras, o máximo que poderemos fazer é valorar e julgar segundo estas crenças e bandeiras;
Então, regra numero 1 : meditar não é ficar tentando forçar a mente a parar de pensar.
Meditar tem que acontecer de forma relaxada. Meditar é o próprio relaxamento da mente.
É a observação passiva de tudo – dos pensamentos, da respiração, das sensações, dos ruídos em volta – sem avaliar, nem racionalizar, nem julgar.
E cada vez que você se perceber embarcando e viajando em algum pensamento que passou por você, perceba a distração, e volte ao objeto da meditação.
Este objeto pode ser um mantra, pode ser a observação da respiração (Annapanna), pode ser Vipassana, pode ser zazen...
Distraiu, percebeu, voltou ao foco, distraiu, percebeu, voltou ao foco...
Relaxadamente, sem ficar zangado nem desanimado com a sua mente. Observe isso também. Apenas observe.
Regra 2: Meditar é sempre em posição sentada.
Deitado é outra coisa, é posição para relaxamento, yoga nidra, jornada xamânica.
Mas meditação, no sentido oriental da palavra, é sempre e somente sentado.
O ideal seria poder se meditar sempre nas mesmas horas. De manhã e de tarde.
Acho 30 minutos para cada prática de meditação, um tempo muito bom para começar.
Pode encostar na parede, pode meditar sentado em uma cadeira. Não precisa sofrer para ficar sentado no chão em postura de lótus.
Não é isso que vai ser o mais importante no processo.
Bem, e aí muita gente pergunta: Meditar prá que? Prá que ficar ali repetindo mentalmente aquele som ou prestando atenção na respiração?
Vou voltar ao exemplo do rio: imagine a vida como um rio caudaloso, um caudaloso rio de emoções (pois é o mundo do sentir quem essencialmente governa e norteia nossa vida, não necessáriamente o mundo do pensar), e nós estamos com a água até logo abaixo do nariz tentando não naufragar.
Desta perspectiva, qualquer marolinha pode ser fatal, pois é o suficiente para encobrir meu nariz e me afogar. Todo o nosso esforço está direcionado em não nos afogarmos.
E não tenho como parar o fluxo do rio.
Mas se eu nado até a margem e me sento e observo, desta nova perspectiva a marolinha que antes podia ser fatal, agora é só uma marolinha outra vez.
E o mais importante: passou...passou...
Então a meditação nos traz - além de melhorar o sono, de trazer mais equilíbrio psíquico e emocional, de melhorar a memória e o desempenho intelectual, de ajudar a desenvolver a intuição e a sensitividade, e de ajudar a promover uma boa imunidade, dentre muitos outros benefícios que a literatura aponta - a possibilidade de aprender e de desenvolver a preciosa habilidade de se ter um olhar neutro, isento, panorâmico, equânime, sobre a vida, sobre si mesmo, sobre os outros.
Este olhar permite que se possa atravessar os rios caudalosos das emoções difíceis, dos sentimentos conturbados e das sensações e memórias reprimidas e dolorosas vindas do passado, de forma a não super dimensiona-los e de modo a que se possa acessar tudo isso, viver tudo isso e curar tudo isso com a partir da forma e do tamanho que realmente cada coisa e cada evento tem.
E depois temos que nos desapegar e deixar tudo isso ir.
Isso é fruto de um constante exercício de desidentificação com a mente, com o ego e com os sentidos, que a meditação homeopaticamente vai desenvolvendo.
A meditação nos ajuda a inserir a idéia da impermanência em nossa vida. E nós vamos passo a passo introjetando este conceito e aprendendo a viver considerando esta verdade mais elementar da vida: tudo passa !
Então se tudo vai passar não carece que eu naufrague a cada tristeza ou me descabele tanto de raiva ou que paralise de medo, cada vez que a vida me traz experiências difíceis através de pessoas ou situações.
Mas de forma nenhuma a passividade que se sugere na meditação, tem a ver com ser passivo, ou preguiçoso na vida.
Muito pelo contrário, só uma mente aquietada em seu centro, tem condições de gerenciar ações conscientes e equilibradas.
De forma nenhuma a meditação é um convite a uma vida ociosa.
A meditação é um convite para uma vida criativa, produtiva e próspera, porém não apegada e identificada com as oscilações inerentes aos movimentos
mentais/emocionais.
E em etapas mais a frente, a meditação vai abrindo acesso às dimensões internas mais amplas e profundas de quem somos, mas que ainda estão em estado inconsciente em função do “império” implantado pela trinca 5 sentidos / ego / mente racional.
Até que um dia, de forma espontânea e natural, o estado de “citta vritti nirodha” (o não movimento da mente racional) acontecerá – poderíamos chamar também de samadhi ou satori - e redescobriremos quem somos: a Consciencia una e eterna.
Queria compartilhar aqui um aprendizado interessante que tive com o falecido mestre Maharishi Mahesh Yogi no Rio, no inicio dos anos 80.
Quase todo mundo da minha geração que queria aprender a meditar naquela época, começava-se geralmente fazendo Meditação Transcedental.
Maharishi, que foi injustamente e pejorativamente estigmatizado como o “Guru dos Beatles”, foi, não só o grande responsável pela introdução e a popularização da meditação e da Medicina Ayurvédica no ocidente, como foi também talvez a primeira autoridade espiritual oriental a fazer a ponte entre o conhecimento tradicional da India e a Física Quântica.
E quando esteve no Brasil, pude ouvir dele uma informação que até hoje é presente nos meus estudos e nas minhas pesquisas (as palavras óbviamente não são literalmente estas, pois era uma palestra, mas a idéia é exatamente esta):
“ Por uma razão que ninguém sabe explicar, quando a mente está no estado transcedental (Maharishi chamava de nível transcedental quando o cérebro operava nas ciclagens tetha e delta), todos os conteúdos, memórias e registros psico emocionais que moravam no inconsciente e que vem à consciência nesta situação específica e singular, estes conteúdos vem para não mais voltar, ou seja, são automáticamente - e misteriosamente - processados, transmutados e reequilibrados.”
Mais tarde pude observar maravilhado este mesmo fenômeno – o acesso ao nível inconsciente, a vinda dos conteúdos para a consciencia e a sua transmutação imediata - ocorrendo em outras terapias, tais como Renascimento, Alinhamento Energético , Constelações Sistêmicas, Resgate de Alma, Tetha Healing, etc.
Se você ainda não pratica, experimente algumas formas de meditação:
- Com Mantra : Escolha um Mantra (se você quiser pode usar o Mantra OM). Sente-se, feche os olhos, libere a tensão dos ombros e do rosto, inspire profundamente e na expiração entoe audívelmente o som do Mantra OM :até o final do fôlego.
OOOOOOOOOOOOOOmmmmmmmmmmmm
Várias vezes.
E quando você quiser, silencie, tire a conscienciada respiração, esqueça dela, e foque toda a sua atenção – sem tensão - no som do Mantra que continuará a ser entoado agora só na sua mente.
Se distrair, perceba a distração e volte para o som do OM.
- Annapanna : Meditação clássica e básica tanto no Yoga quanto no Budismo.
Sente-se, feche os olhos, e imagine que a partir de agora é como se a sua respiração respirasse por conta própria, sem a sua participação. Você está ali só assistindo esta respiração, observando os movimentos dela, sem interferir nem controlar.
Agora perceba que quando o ar entra pelas suas narinas, ele produz uma sensação e quando o ar sai ele produz um ventinho na região do bigode.
Apenas observe passivamente estas sensações.
Se ainda assim a mente estiver muito agitada, quando você perceber que o seu nariz inspirou, pense o mantra SO e ao expirar pense o mantra HAM.
SO HAM que dizer “Eu sou Ele” e é usado para dar apoio neste tipo de meditação.
Mas lembre-se: não guie nem controle a respiração. Largue-a e observe-a.
É absolutamente normal que a freqüência da respiração caia muito, mas fique tranqüilo, você não vai parar de respirar !
Atenção: sempre que a mente estiver mais focada e relaxada, abandone o mantra e fique apenas observando as sensações do ar entrando e saindo de suas narinas.
Uma curiosidade :
Sempre que uma cultura entra em outra, como é o caso aqui das culturas orientais em nossa cultura, algumas terminologias ganham outros significados além dos que já tinham.
E a palavra Meditação também passou a ser usada para designar os exercícios guiados pessoalmente ou por gravação, geralmente com musicas new age ou étnicas, onde normalmente são sugeridas visualizações e mentalizações.
Estas práticas são ótimas, sem duvida nenhuma, mas não são clássicamente meditação.
Meditação em seu sentido tradicional, é apenas sentar-se em silêncio para observar.
Seja qual for a técnica que se use, o “espírito da coisa” é sempre o mesmo: observar relaxada e passivamente o presente.
Aí está presente a Unidade.
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